Falar sobre empreendedorismo pode parecer uma conversa limitada a quem decide assumir o desafio de abrir o próprio negócio. Na verdade, o que faz esse tema parecer limitado é apenas um ponto de vista. Se você trabalha em uma grande empresa, com estrutura e modelo de negócio conservador, ainda assim existe a chance de empreender. É o que chamamos de intraempreendedorismo.
Esse termo pode até trazer uma sensação de complexidade em um primeiro momento, mas se trata de um conceito relativamente simples, que se refere à adoção de uma postura empreendedora dentro de negócios tradicionais. Ou seja, você segue contratado por uma empresa, mas tem condições para agir como se estivesse empreendendo, o que possibilita identificar problemas e propor ideias no seu ambiente de trabalho.
O intraempreendedorismo representa uma grande oportunidade de inovação para as empresas, já que mantém o negócio ativo e preparado para lidar com as mudanças constantes do mercado. Na outra ponta, as pessoas envolvidas também se beneficiam, já que podem expressar e desenvolver competências empreendedoras.
Na prática, a viabilidade do intraempreendedorismo depende do comprometimento de profissionais e empresas. Ao longo deste artigo, vamos explicar por que existe um grande potencial no intraempreendedorismo e mostrar o que é necessário para torná-lo realidade.
Primeiro, o básico: o que é intraempreendedorismo
Se essa é a primeira vez que você lê algo sobre intraempreendedorismo, pode se acostumar ao termo, porque a tendência é que se torne cada vez mais presente no meio corporativo. E o motivo é simples: as empresas precisam inovar nos segmentos em que atuam. Um dos meios para fazer isso acontecer é com a criação de uma cultura empreendedora internamente.
A palavra intraempreendedorismo tem origem na variação do inglês: intrapreneur, que significa empreendedorismo interno. O conceito, então, pode ser resumido como a aplicação de atitudes e habilidades empreendedoras dentro de empresas já existentes. Isso só é possível com a contribuição de pessoas dispostas a propor soluções inovadoras para problemas que impactam o negócio.
O intraempreendedorismo já rendeu produtos bem-sucedidos em nível global, como o Gmail, que nasceu como projeto interno da Google, e o botão curtir do Facebook, proposto durante um hackathon interno da empresa. Mas essa prática não se restringe ao desenvolvimento de produtos e serviços – também pode ser direcionada ao aprimoramento de processos e modelo de negócios. O Senac do Rio Grande do Sul, por exemplo, criou um programa de intraempreendedorismo para estabelecer a estratégia e o modelo de gestão da inovação.
Perfil intraempreendedor: principais características
Em um mercado que demanda inovação constante, o intraempreendedorismo tem sido considerado aspecto fundamental na seleção de profissionais, principalmente em negócios de grande porte, onde a dificuldade para inovar costuma ser maior. As características que indicam perfil intraempreendedor estão entre as mais valorizadas pelas empresas.
Grande parte dessas características são comportamentais, que podem ser inatas de uma pessoa ou desenvolvidas de forma consciente. Veja quais são as principais:
Proatividade: pessoas com perfil intraempreendedor não se contentam com atividades repetitivas e gostam de se envolver em projetos que as desafiem. Mostram entusiasmo para aprender e colaborar, mesmo em funções novas.
Visão estratégica: no intraempreendedorismo, busca-se integrar diferentes áreas da empresa. Pessoas com esse olhar têm capacidade de visualizar como conhecimentos de áreas distintas podem ser articulados para antecipar movimentos de mercado e resolver problemas internos.
Facilidade para lidar com mudanças: nenhum cenário é fixo e as pessoas intraempreendedoras sabem disso. Por isso, sentem-se confortáveis em ambientes onde há mudanças constantes, seja por influência externa ou por uma necessidade do próprio negócio.
Autenticidade e confiança: a diversidade exerce um papel essencial no intraempreendedorismo e quem está inserido nesse contexto reconhece o valor de cada indivíduo. Pessoas intraempreendedoras se sentem seguras para expressar os seus pontos de vista, ao mesmo tempo em que se colocam disponíveis para ouvir os outros com atenção.
Benefícios do intraempreendedorismo para empresas e profissionais
As vantagens do intraempreendedorismo podem ser vistas pela ótica dos negócios e das pessoas que contribuem com o processo. Se existe um ambiente favorável, as oportunidades para aproveitá-lo são amplas de ambos os lados.
Para quem trabalha na empresa, o intraempreendedorismo representa uma chance de propor ideias e desenvolver as habilidades necessárias para executá-las, mas sem precisar se expor aos riscos de abrir um negócio. Esse caminho pode ser uma verdadeira preparação para quem deseja empreender por conta, mas sente necessidade de se capacitar antes de tomar uma decisão nesse sentido.
Do lado das empresas, os benefícios são significativos. O intraempreendedorismo contribui para a sustentabilidade do negócio, já que inovação tem uma relação direta com vantagem competitiva. A atitude empreendedora da equipe pode identificar demandas latentes no mercado e gerar ideias que as atendam, ou aperfeiçoar produtos e serviços que já estão em circulação.
Esse posicionamento, que prioriza a iniciativa, evita que a empresa apenas reaja às mudanças que acompanham a sociedade, sejam tecnológicas ou de comportamento. Os problemas internos também são identificados com agilidade e impulsionam o desenvolvimento de soluções efetivas, com impacto positivo na operação do negócio.
Como transformar o intraempreendedorismo em realidade
A execução do intraempreendedorismo depende de três fatores: perfil adequado das pessoas, ambiente propício e alinhamento da liderança com a proposta. Além de contratar profissionais com vontade de intraempreender, a empresa deve oferecer condições favoráveis para que as competências empreendedoras floresçam e se desenvolvam.
É responsabilidade da organização criar um ambiente de incentivo à criatividade e à colaboração, com estrutura flexível e tolerância a erros. Nada disso acontece sem que a liderança internalize a cultura de inovação como essência da empresa e faça a sua parte para disseminá-la.
Em muitos casos, o intraempreendedorismo exige adequação de empresas com estruturas hierárquicas verticalizadas, já que há necessidade de descentralizar atividades – e até mesmo decisões. O intuito é proporcionar liberdade para as pessoas expressarem o seu potencial de inovação, sem perder o foco dos objetivos traçados pela empresa.
As recompensas do intraempreendedorismo extrapolam os resultados alcançados pelo negócio e se estendem à satisfação da equipe. Em contextos que encorajam a inovação, as pessoas se sentem à vontade para mostrar do que são capazes e a motivação individual se nutre à medida que as ideias são prestigiadas. É um ciclo positivo, que pode ser cultivado em todas as empresas e só ganha força nas condições apropriadas.
