O empreendedorismo inovador é uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento socioeconômico regional. Com a aplicação de negócios inovadores, é possível promover a competitividade, incentivar o aperfeiçoamento de produtos e serviços, gerar mais (e melhores!) postos de trabalho. Por consequência, as regiões ampliam o valor econômico e as melhorias de vida das populações.
Entretanto, para que o empreendedorismo inovador consiga emergir e se consolidar, é necessário um contexto que contribua para o sucesso desses empreendimentos. E chamamos esse contexto de ecossistema empreendedor.
Assim, os ecossistemas de empreendedorismo são formados por um conjunto de elementos inter-relacionados que estimulam a criação e conduzem a qualidade dos novos negócios. Dessa forma, é possível contribuir para o surgimento de empresas de sucesso que servirão de inspiração para novos empreendedores.
Em ecossistemas mais desenvolvidos, essas empresas podem ser caracterizadas como inovadoras, pois possuem o conhecimento aplicado (tecnologia) como principal ativo, aumentando as chances de crescimento e impacto. Daniel Insenberg, professor de Prática do Empreendedorismo da Babson College, define o ecossistema empreendedor em seis competências. A seguir, você conhece cada uma delas!
1. Políticas Públicas
O primeiro domínio do ecossistema empreendedor não está ligado a ideologias ou partidarismo. Por isso, está diretamente relacionado ao papel das políticas públicas na facilitação do caminho que já está sendo trilhado pelo ecossistema.
As políticas públicas devem atuar para a diminuição da burocracia e outros obstáculos à atividade empreendedora. É também essencial para a criação e implantação de leis que favoreçam o empreendedorismo, como a descriminalização da falência, a proteção de acionistas frente a credores, a criação e liberalização dos mercados de capitais e ao apoio aos desempregados, por exemplo.
2. Capital financeiro
É fundamental que existam recursos financeiros acessíveis aos empreendedores, em especial ao capital de risco, no qual o investidor também assume parte do risco do investimento.
As aceleradoras podem auxiliar nesse processo ao proporcionarem aos empreendedores inovadores e suas startups acesso a financiamento inicial, bem como mentoria, capacitação e networking.
3. Cultura
A competência da cultura está relacionada a estar aberto à experimentação e adoção de inovações ainda não totalmente consolidadas, tertolerância à falha e à adoção de uma atitude pró-empreendedorismo.
Estes são elementos culturais importantes que incentivam a estruturação de um ecossistema empreendedor e, principalmente, impulsionam a trajetória. Divulgar casos de sucesso, promover eventos e reconhecer empreendedores são algumas iniciativas que ajudam a fortalecer uma cultura pró-empreendedorismo.
4. Suporte
Neste ponto do ecossistema empreendedor devem ser contempladas entidades não governamentais de apoio aos empreendedores, profissionais de suporte especializados em startups e condições de infraestrutura.
Assim, se encaixam neste domínio parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras e organizações que fomentam o empreendedorismo (como o próprio Sebrae), advogados, contabilistas, mentores e consultores especializados em startups (como a Semente); e, ainda, condições de telecomunicação, transportes, logística, energia e segurança.
5. Recursos Humanos
Nesse domínio entram tanto a capacitação de empreendedores, quanto a oferta de trabalhadores qualificados para as startups, contemplando universidades, faculdades e cursos livres ligados ao empreendedorismo e à inovação.
6. Mercado
Finalmente o domínio mercado inclui as relações entre startups e grandes empresas, as redes formadas pelos empreendedores e o próprio mercado consumidor em geral. Grandes empresas podem ser fonte de experiência, investimento e contratos, enquanto as redes entre empreendedores permitem o acesso a novas oportunidades e aprendizados – o que pode ser facilitado pela proximidade geográfica e senso de comunidade.
Entendendo os diferentes domínios de um ecossistema empreendedor favorável à inovação, via criação de startups e seu crescimento e consolidação como empresas inovadoras, trago algumas sugestões de iniciativas para fortalecer os diferentes ecossistemas do País, respeitando, obviamente, suas particularidades.
Iniciativas para fortalecer o ecossistema empreendedor
- Focar em programas de empreendedorismo e políticas governamentais na consolidação de startups em empresas inovadoras
Impostos são recolhidos e bons empregos são gerados quando as startups crescem e se consolidam como empresas inovadoras, e não quando surgem cercadas de incertezas. Além disso, casos de sucesso são um incentivo enorme para novos empreendedores. - Priorizar iniciativas públicas que atuem em falhas de mercado explícitas, quando houver condições e competências para tanto
Por exemplo, existe uma lacuna de acesso a capital de risco no ticket de R$500 mil a R$1 milhão. O FINEP Startup é um exemplo de iniciativa governamental que busca atuar nessa lacuna. Mas muito ainda precisa ser feito para dar vazão às oportunidades de negócios que existem nesse estágio.
Indo mais além, não acredito que seja papel do poder público resolver esse problema sozinho, nem dessa forma. Mais do que financiar, o poder público deve ajudar na construção dos alicerces para que haja um quadro institucional favorável a investimento de risco no País. - Difundir um conceito alinhado do que são startups
As startups são organizações temporárias em busca de um modelo de negócio viável em um contexto de inovação e muitas incertezas. Já as e empresas inovadoras são aquelas startups que conseguiram encontrar o modelo de negócio viável!
Essa compreensão pode ajudar legisladores a serem mais precisos na extinção de leis sem sentido e na criação de outras de incentivo. Atualmente, existem diversos projetos de lei para dar suporte às startups. Entretanto, a maioria destes projetos são muito mal desenhados, inconsistentes com outras regulações e/ou muito difíceis de aprovar e implantar por esta dificuldade de entendimento. - Promover o envolvimento de grandes corporações e outras organizações estabelecidas com o empreendedorismo inovador regional, via programas de conexão e conteúdo
A sua importância para o surgimento e crescimento de startups (além da aposta em um ecossistema empreendedor) é inegável, seja para promover networking, mentoria, investimento ou negócios entre as partes. - Incentivar a internacionalização
A internacionalização de negócios não traz apenas crescimento da base de clientes, mas também melhoria na gestão e na própria tecnologia do produto, que precisam evoluir para atenderem às exigências de competitividade do mercado internacional. - Conectar mais intensamente incubadoras com o restante do ecossistema (e vice-versa!)
Normalmente, startups que surgem a partir de spin-offs acadêmicas e estão incubadas em universidades são ligeiramente mais tecnológicas do que a média, já que foram desenvolvidas muitas vezes a partir de pesquisa científica. As incubadoras deveriam ser grande fonte de pipeline para aceleradoras e investidores anjo, e fortalecer sua aproximação com o mercado, o que ainda acontece em baixíssima escala.
Finalmente, é necessário considerar as especificidades de cada ecossistema empreendedor. Até em um mesmo país, onde o ambiente regulatório é parecido, há condições econômicas e sociais completamente diferentes, gerando configurações distintas e específicas. Não é recomendável “copiar e colar” práticas de um lugar para outro esperando que tenham o mesmo resultado do ecossistema de origem. Esta é uma receita para o fracasso e desperdício de recursos escassos e importantes.
A estrutura do ecossistema é diferente em diferentes regiões, e é importante verificar como as diferentes interações entre os domínios reproduzem ecossistemas diferentes.
Para replicar boas práticas de um ecossistema, deve-se primeiro entender muito bem a configuração, tanto do ecossistema base quanto em quais praticas serão adotadas, para que, assim, tenham resultados positivos.